quinta-feira, dezembro 30, 2004

Artigo: Superfuzz (Diário de Notícias)

SUPERFUZZ
Rock'n'roll aos quadradinhos

Nascida há três anos no semanário musical Blitz, a série Superfuzz, centrada no dono de uma loja de discos alternativa, conseguiu ganhar um estatuto de miniculto, que justifica agora o seu lançamento em álbum pela Devir, num primeiro volume intitulado Vai Sonhando, Paiva... Vai Sonhando!. Até final deste mês, o livro, da autoria de Rui Ricardo (desenhos) e Esgar Acelerado (texto), pode ser adquirido juntamente com o Blitz. A partir de 1 de Dezembro, ele passa também a estar disponível em qualquer livraria, a um preço muito convidativo.Assinale-se que a edição traz extras: dois prefácios, um de Miguel Esteves Cardoso (um luxo, embora ele não discorra sobre a série mas sim sobre as ilustrações que a dupla realiza para a sua coluna), o outro do actual director da publicação, Pedro Gonçalves, e ainda uma boa entrevista final com os autores, conduzida por Raquel Pinheiro, onde em três páginas eles falam da mais emblemática das suas personagens e esclarecem pormenores sobre o seu processo criativo: «O Rui chateia-me a cabeça para eu ter o storyboard pronto lá para sexta, eu entrego no domingo. Depois é a minha vez de o chatear para ter a prancha desenhada na segunda e ele entrega-ma na quarta.»O certo é que este atribulado processo continua a funcionar, já lá vão 40 meses, sem qualquer interrupção («férias?... o que é isso?», perguntam eles com inteira justiça). E, mais difícil ainda, Superfuzz continua a não cansar os seus leitores - este livro apresenta uma selecção de 70 pranchas, deixando, infelizmente, algum material inicial de fora -, em grande parte porque a dupla, com indiscutível inteligência, soube transformar a página semanal num espaço de liberdade quase absoluta.Claro que existem personagens fixas, com o falhado Paiva - o dono da tal loja de discos - à cabeça, acompanhado do incompetente Ricky ou do sedutor sr. L'Amour, mas de resto tudo parece ser possível, desde séries paralelas, como a das Garina sem Vagina, momentos de auto-reflexão criativa, piscadelas de olho ao próprio jornal (o «Bullitz») e aos seus colaboradores, ironias sobre o tele-shopping ou viagens alucinogénicas - sem esquecer um olhar atento sobre a realidade mediática (por exemplo, a paródia ao Cabaret da Coxa) ou cultural (os vários episódios passados nos inevitáveis festivais de Verão). O céu é o limite. A partir de uma matriz reconhecida - o livro e filme Alta Fidelidade, no seu retrato bem humorado da fauna musical -, Ricardo e Acelerado conseguiram criar uma série ao mesmo tempo com uma identidade forte e com múltiplas possibilidades de expansão, traduzindo para BD as muitas idiossincrasias da cultura jovem - SIC Radical, se quisermos - portuguesa. Ricardo é detentor de uma linha clara século XXI, muito legível e com uma utilização eficiente do computador. Acelerado tem imaginação e um indiscutível talento para a construção dos diálogos. Juntos, construíram uma das mais divertidas séries da BD nacional.
João Miguel Tavares, in DN 15 Novembro 2004

Retrato: Rui Ricardo


Auto-retrato de Rui Ricardo, proletário do pincel e photoshop. Líder visionário, orientador do bom gosto artístico das massas. Longa vida!!!

Foto: Os Dois Responsáveis


Esgar Acelerado e Rui Ricardo, fotografados por Rita Carmo para o BLITZ. Cenário: parede da CHILI BAZAAR, edifício Artes em Partes, Porto.

BD: Clássicos de la Ciencia-Ficción


BIBLIOTECA GRANDES DEL CÓMIC Clássicos de la Ciencia-Ficción - Nº1
Planeta DeAgostini, Dezembro 2004
180 páginas

A ficção-científica (FC) sempre foi um amplo campo de matéria ficcional para os artistas de banda desenhada. Flash Gordon, Buck Rogers ou Brick Bradford foram alguns dos primeiros grandes heróis do género que ocuparam as páginas dos jornais norte-americanos desde o início dos anos 30 do século XX. Contudo, só após a Segunda Grande Guerra, em plena Guerra Fria, os constantes desenvolvimentos técnicos e científicos, o início da corrida ao espaço e a especulação sobre a existência de vida noutros mundos, muito pela onda de avistamentos de discos voadores, iriam criar as condições propícias à implosão de revistas de FC. As mais famosas, hoje verdadeiras peças de coleccionismo a preços mais que exagerados, foram as editadas por Al Feldstein para a editora EC Comics: Weird Science, Weird Fantasy, Weird Science Fantasy e Incredible Science Fiction, títulos que, em vez de se centrarem em longas histórias de aventuras no espaço, ocupariam as suas páginas com histórias curtas, por vezes adaptações de novelas de autores como Ray Bradbury ou Henry Hasse, quase sempre relatos de feitos científicos e das suas implicações negativas, temperadas com uma boa dose de humor negro. Histórias de viagens no tempo, invasões extraterrestres e guerras atómicas, desenhadas e escritas por autores como Harvey Kurtzman, Al Williamson, Wally Wood ou Bill Elder, que ficariam para sempre gravadas na memória dos leitores. Para nossa satisfação, disponíveis agora no mercado espanhol numa extraordinária colecção de 10 volumes que as compilará na totalidade. Uma iniciativa editorial que não podemos deixar de agradecer.
sítio: www.planetadeagostinicomics.com

Ilustração: Tom Waits e Adolfo Luxúria Canibal


Tom Waits e Adolfo Luxúria Canibal, à mesa do café. Os dois melhores discos do ano para a redacção do Blitz. Ilustração a acrílico sobre papel. BLITZ # 1051, 21 Dezembro 2004

Pois é!...

Aqui estamos.
Essencialmente para deixar informação acerca do trabalho desenvolvido por Rui Ricardo e Esgar Acelerado para as páginas da Gazeta CRU do semanário BLITZ.
Superfuzz, ilustrações, resenhas de livros de BD... Sempre abertos a comentários e sugestões.